sexta-feira, 11 de novembro de 2011

U.T.I






A SABEDORIA DE UM HOMEM NÃO ESTA EM NÃO ERRAR E NÃO PASSAR POR SOFRIMENTOS, MAS NO DESTINO QUE ELE DÁ AOS SEUS ERROS E SOFRIMENTOS.  



                   Estava lembrando-me da época que eu fiz os estágios da faculdade de Enfermagem. Modéstia a parte, eu tirei 10 em todos, mas teve um em particular que foi o mais sofrido de fazer, que foi o de UTI.

                   Ele com certeza foi um dos mais complexos pela quantidade de exames que tínhamos que avaliar, os aparelhos que tínhamos que manusear, os banhos de leitos com aquela porção de aparelhos ligados, o puncionamento de veias etc, mas não foi nisso que eu tive dificuldade e sim, no ÓBITO.

                   Todos os dias eu orava para que ninguém morresse na minha mão para eu não fazer o bendito do procedimento chamado “tamponamento”, que consiste em colocar algodão nos orifícios do cliente para evitar que sangue ou outra secreção vase pelo nariz, boca... durante o velório.

                   Eu não tinha problema em cuidar de 2 ou até 3 clientes, mas contando que eles estivessem vivos, mesmo que fosse somente pela ajuda de máquinas. Sendo assim, este estágio foi muito estressante e como minhas orações estavam funcionando, nenhum dos meus clientes morriam, pelo menos no meu plantão. Até que chegou um dia que o cliente de minha amiga foi a óbito e como ela já tinha feito tamponamento a professora disse que o caso ia ficar comigo.

                   Então fui até a Central de Material pegar o material necessário para o tamponamento que consiste em algodão, um pinça bem longa para introduzir o algodão e faixas de crepe para amarrar mãos e pés, mas nem sei por que estou falando tantos detalhes técnicos.

                   Só sei que quando cheguei na UTI fui informado pela professora que eu ia fazer o tamponamento no necrotério porque tinha um cliente no Pronto Socorro e quanto mais rápido eu liberasse o leito melhor.

                   Olha pessoal, eu até tenho que falar sobre isso na minha terapia. Eu tenho pavor a defunto,e a caixão. Agora imagina quando eu tive que entrar sozinho no elevador com aquele corpo enrolado no lençol em uma maca sem colchão. Eu quase tive um treco, mas até ai eu fiz cara de paisagem e fui embora.

                   Quando estava descendo a ladeirinha do hospital para o necrotério, o corpo começou a escorregar da maca e eu não sabia se eu segurava a maca, o corpo, se eu largava tudo, saia correndo. Eu estava muito angustiado com aquela situação e ai quando eu entro no necrotério eu encontro mais três corpos lá aguardando para fazer autópsia e vieram pedir logo para eu colocar um dos corpos na geladeira.

                   Ta de brincadeira!!! Colocar dentro da geladeira?

                   Mas fiz como o solicitado.

                   Só sei que quando comecei a fazer o tamponamento, ao colocar o algodão no nariz, eu quebrei o septo do cliente e nem quero falar o resto.
                   Contei essa história só para dizer que aquele foi o primeiro e o último tamponamento que eu fiz na minha vida e que eu tive que passar por essas circunstâncias para me capacitar a ser um enfermeiro COMPLETO.

                   É claro que se eu puder evitar, eu evito mesmo, e quando vou orientar estágios e os alunos me pedem para visitar o necrotério eu odeio a ideia, mas vou com eles e fico bem de longe kkkkkkkkkkkkkkkkkk

                   Falei tudo isso só para dizer que o estágio que estou fazendo aqui na clínica esta pior que o estágio da UTI. Sinto-me fazendo um “tamponamento” por dia. Não estou nada feliz com a metodologia aplicada, com o andamento das dinâmicas, mas sabe por que não vou desistir? Porque tanto esse, como o estágio de UTI, apesar de ter sido muito desgastante, me prepararam para desafios maiores.

                   Aqui estou aprendendo muitos exemplos a não seguir e particularmente no dia de hoje fiquei muito triste por sentir que estou dando “murro em ponta de faca”. Mas se a finalidade dos internos é errarem, a minha é mostrar o caminho certo.

                   Deem uma olhadinha nessa história que tirei do perfil de minha irmã querida e que me ajudou muito a tomar a decisão de continuar fazendo esse estágio que não é de UTI, mas que é tão difícil quanto.



Um mestre do Oriente viu quando um escorpião estava se afogando e decidiu tirá-lo da água, mas quando o fez, o escorpião o picou. Pela reação de dor, o mestre o soltou e o animal caiu de novo na água e estava se afogando. O mestre tentou tirá-lo novamente e outra vez o animal o picou. Alguém que estava observando se aproximou do mestre e lhe disse:
-Desculpe-me, mas você é teimoso! Não entende que todas as vezes que tentar tirá-lo da água ele irá picá-lo? O mestre respondeu:
-A natureza do escorpião é picar, e isto não vai mudar a minha, que é ajudar.

Então, com a ajuda de uma folha, o mestre tirou o escorpião da água e salvou sua vida, e continuou:

-Não mude sua natureza se alguém te faz algum mal; apenas tome precauções. Alguns perseguem a felicidade, outros a criam. Quando a vida te apresentar mil razões para chorar, mostre- lhe que tens mil e uma razões pelas quais sorrir. Preocupe-se mais com sua consciência do que com sua reputação. Porque sua consciência é o que você é, e sua reputação é o que os outros pensam de você.
E o que os outros pensam… é problema deles.



                   O texto é lindo de se ler, mas bem mais difícil de executar.

          Tentarei ser um mestre nesta nova fase e assim, sair daqui preparado para abrir a minha clínica.



         Vamos voltar agora um pouco no túnel do tempo.



Inventário do dia 15 de abril

                   Neste dia chegaram dois caminhões de lenha, e é claro que ninguém queria ficar no sol descarregando lenha.

                   Pela manhã eu fui de boa vontade e ajudei a descarregar, mas a tarde, eu fiquei muito bravo por que eu estava novamente descarregado o caminhão enquanto tinha gente sem fazer nada e novamente o Fábio aprendeu através da dor.

1.    Quem falou que EU era obrigado a descarregar a lenha do caminhão cedo e a tarde?

2.    Quem falou que os outros internos não podiam ficar sem fazer nada?

3.    Porque eu tinha que ser o “gostosão” de descarregar todos os caminhões que chegavam?

4.    Por que o Fábio tinha a necessidade de sempre ser o bonzinho, mas depois ficava cobrando dos outros a mesma “bondade”?



Aprendi que se eu faço algo para colaborar com alguém eu não tenho que me importar se o outro vai fazer ou não. Eu fui porque eu quis, pelo menos, ninguém me colocou uma arma na cabeça kkkk



                   Sei que hoje eu tenho que fazer as coisas para eu me sentir bem, para a minha aprovação e não para a aprovação dos outros. Sofria tanto nessa época e não percebia que a raiva era só minha, que enquanto eu estava suando ao descarregar as lenhas, morto de raiva, os meus companheiros estavam pouco se importando com a raiva que era só minha.

                   Alguns eram folgados, mas eu também tinha o direito de ser.

ETERNAS IMCOMPARÁVEIS 24 HORAS DE SERENIDADE E SOBRIEDADE.

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