Loucura, loucura, loucura.

O SOFRIMENTO, EM MUITOS CASOS, SE TORNA UM SUBSTITUTO DAQUILO QUE SE PERDEU. PRECISAMOS NOVAMENTE SUBSTITUIR ESSE SOFRIMENTO PELA ESPERANÇA.

                                                  

                   Preciso ser sincero em dizer que o momento em que eu posto o blog, é um dos, que eu mais me sinto paz. É nessa hora que eu mato todos os meus fantasmas e consigo expressar ao “mundo” meus medos e minhas vitórias. Não preciso ficar fantasiando. Eu mostro a minha verdade nua e crua e quando acabo de escrever acontece um alívio quase que imediato como se eu tivesse tomado um antiácido.

          Vou falar um pouco sobre o meu dia de hoje. PREPAREM-SE KKKKKKKKKKKKKKK  Quando lerem sobre o meu dia de hoje, saibam que isto foi escrito no sábado dia 29, mas quando eu ia postar a energia elétrica, bem como a bateria do notebook acabaram e ficamos aqui na chácara sem energia até agora, segunda feira, às 6 horas da manhã kkkkk Haja serenidade.

         Eu como Enfermeiro já fiz estágio em clínicas psiquiátricas anteriormente, mas lá eu já via a pessoa no seu estado de doença crônica mesmo, ao ponto de comer fezes no sentido literal da palavra, e o pior é que eles vinham me oferecer kkk, pena que eu não tinha um gosto tão apurado.

         Lembro-me que tinha uma cliente muito simpática que esperava eu chegar para o estágio para me oferecer um pedaço de pão para eu tomar café com ela, mas que tinha um detalhe, o pão que ela queria compartilhar comigo era o que ela recebia às sete horas da manhã e que ficava guardado até as oito debaixo de sua axila. Nesta hora eu só lembrava de minha professora que dizia que nós não poderíamos magoar os sentimentos deles, e minha vontade era de oferecer o pão para ela comer também kkkkkkkkk

         Lá, até que era normal esse tipo de comida exótica já que eu estava em um hospital psiquiátrico. O cardápio variava entre terra, fezes, baratas, moscas, folhas, pão untado com suor etc.

          Hoje eu fui surpreendido por um interno. Ele me informou que por ser muito religioso, após ele fazer a leitura da bíblia ele comia as folhas da mesma para que a palavra de Deus ficasse interiorizada em seu íntimo.

Fiquei sem saber o que falar e fazer.

          No hospital, eu estava até que preparado para presenciar esse tipo de comportamento, mas aqui, a pessoa se apresenta como “normal”, e então, ao se aproximar com este tipo de abordagem eu admito o meu choque e não parou por ai.                        

          Esse interno dança o tempo todo e na reunião de espiritualidade ele começou a dançar e bater o pé no chão, rodar e criou um incomodo no grupo.

          No final da reunião por já ter tido a experiência da dieta das folhas de bíblia tentei fazer uma abordagem mais cuidadosa esperando uma resposta nada convencional, e eu estava certíssimo a respeito de minhas suspeitas. Ele disse que Davi dançou nu na presença de Deus e que ele “AINDA” não tinha feito isso.

           Eu não sabia se eu ria, seu eu levava na brincadeira, mas por fim vi ao vivo e a cores que ele estava falando sério e muito sério na possibilidade de ficar nu, dançando na reunião.

            Com o maior tato expliquei que estávamos em uma Comunidade Terapêutica para recuperação de adictos e não em uma Comunidade Naturalista, e que essa atitude não seria vista como normal pelo grupo, e mesmo não se convencendo com meus argumentos, prometeu não dançar nu, mas que continuaria a comer sua bíblia.

             Até ai tudo bem. Não posso proibi-lo de comer comidas exóticas. Ele não passando mal e não acordando qualquer dia desses achando que é uma traça ou um cupim, para mim esta de bom tamanho. O que eu posso e irei fazer é pontuar esse caso a nossa psicóloga e solicitar um acompanhamento psiquiátrico.

         Fiquei triste por ver ao vivo e a cores alguém com um comportamento tão destruído pelo uso de drogas.

          Li um artigo que diz que a droga desperta problemas de ordens psíquicas que poderiam passar encubados por toda uma vida, e que problemas psíquicos também nos levam a ter uma propensão maior ao uso de drogas.

Hoje presenciei essa linha tênue entre o estar insano e são.

         Quem sou eu para falar algo, mas o mínimo que se espera é que a pessoa respeite o que o grupo espera de uma pessoa “normal”.

         Já pensou se a moda pega e os meninos vão querer comer revistas pornográficas para sentir as mulheres em seu interior (brincadeirinha).

         Outra situação foi de que aconteceu que um dos familiares de um interno foi a óbito e ele chegou até a mim pedindo DOIS clonazepam para se acalmar.

        Prestem bem atenção no detalhe. Ele não veio me pedir algo que pudesse ajudá-lo a passar o momento de nervosismo. Ele já veio com a medicação e a quantidade como se ele em algum momento pudesse se medicar e como também se eu fosse autorizado a fazer tal coisa.

         Quando eu fui tentar justificar que eu não poderia dar tais remédios porque eu não era médico e mesmo porque se eu desse ele dormiria durante o velório, ele tentou usar de manipulação para cima de mim dizendo que eu não estava respeitando a dor dele, mas para cima de mim não, quem não estava me respeitando era ele em não entender que para ajuda-lo eu não poderia me prejudicar.

          Imagina se ele dorme no velório e vão falar para o dono da clínica que fui eu quem deu o calmante. Já até imagino o texto.

Deu o calmante com ordem de quem?

         La vai o Fábio perder o Coren dele para ajudar o próximo. Percebi nessa situação que ao ajudar alguém eu antes tenho que me ajudar e mesmo que ele tenha ficado bravo comigo na hora depois que passar tudo isso ele vai entender, o que pude fazer nessa situação foi orar por ele e pelos outros familiares.

         Não acabou ainda. Hoje é dia de ligações e autorizei um interno a fazer uma ligação a sua irmã e perguntei antes se ela queria receber tal ligação já que muitas familiares querem distâncias dos internos que estão aqui e ela disse que queria sim, mas infelizmente no meio da conversa ouve uma discussão entre eles e essa mulher pediu para falar comigo. Simplesmente ela estava surtada.

          Na hora, eu pensei que fosse uma pegadinha do Luciano Huck, do Gugu, da Xuxa, porque eu ainda sonho com eles aparecendo aqui para me ceder um terreno para a construção do Projeto Verônica, mas voltando ao foco, ela começou a gritar dizendo que ele tinha sido grosso ao telefone porque eu não estava dando as medicações corretamente para ele, que a ligação estava no viva voz e que tudo que eu falasse outras pessoas estavam ouvindo, que eu tinha orientado o interno a discutir com ela. Eu não via a hora de alguém me dizer que aquela situação era uma pegadinha, mas infelizmente não era não.

          No final ela disse que na segunda feira iria reclamar para o Diretor da clínica que eu tinha feito esse boicote com ela.

LOUCURA, LOUCURA, LOUCURA ...

         Fiquei surpreso com minha calma e engoli mais essa girafa.

         Hoje consigo entender por que esse companheiro usava droga, com uma irmã dessas, só bebendo o dia todo para aguentar (desculpe a brincadeira de mau gosto, mas preciso vomitar essa girafa que ainda esta entalada na garganta).

         Não deu cinco minutos e o diretor da clínica me liga perguntando o que tinha acontecido e eu expliquei que ele precisaria pedir um resgate para essa senhora para uma internação psiquiátrica, porque quem deveria estar internada era ela e não o interno que estava comigo, e ele não gostou muito do meu tom, mas sabe de uma coisa, ou ele confia no que eu falo e faço ou não tem como eu ficar botando panos quentes em tudo. Fui educado até o fim, mas vi que realmente esse é o mês das bruxas. É muita loucura para um dia só.

         Moral da história de hoje.

         De médico e louco todos temos um pouco, mas como eu consigo me enxergar em tratamento hoje, eu trabalho a minha sanidade e respeito na medida do possível, o sofrimento e as necessidades das pessoas que estão a minha volta, mas com um pequeníssimo detalhe, também respeito primeiramente o MEU SOFRIMENTO E MINHAS NECESSIDADES.

       Como poderia respeitar tais sentimentos no próximo se não respeito em mim mesmo?

DESEJO A TODOS ETERNAS BOAS 24 HORAS